terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ensaio-Os desertos de cada um e o encontro com Deus

Todos nós estamos em busca de um encontro verdadeiro com nosso eu interior. Porque quando acreditamos que Deus habita em nosso intimo, temos a certeza de um encontro com Ele se nos encontrarmos, nos conhecermos e nos entendermos verdadeiramente como seres humanos que somos. Nossa busca pode ser consciente ou inconsciente, mas de um jeito ou outro é comum a todo ser humano, buscamos Deus em nós. Mesmo quem se considera ateu busca algo que não sabe o que, esse algo é o entendimento de si mesmo, e é a mesma busca dos que crêem.
Em determinadas fases da vida, ou em várias fases por períodos curtos ou longos, somos levados a desertos de nós mesmos. Isso acontece quando a busca interior nos leva a querermos um total isolamento do mundo que nos rodeia. Assim como Cristo, que por quarenta dias e quarenta noites meditou no isolamento do mundo material, nós também, por sermos filhos de Deus, precisamos e fazemos o mesmo, percebendo nós ou não, mas o fato é que fugimos ou nos retiramos para meditar em desertos de nós mesmos.
Essas são fases muito delicadas de nossas vidas, porque em busca de força ficamos fragilizados e propensos a influencias nem sempre positivas em nossa caminhada para Deus. E Ele permite que façamos escolhas, porque temos um livre arbítrio, mas temos que estar atentos porque podem nos ser oferecidos atalhos, e então podemos ser enganados, cabe a nós aceita-los ou não. Nossa fé e nossa humildade são testadas, nossa verdadeira vocação para Deus é posta à prova. Se praticamos boas obras, ações cristãs de solidariedade, e alguém nos oferece uma grande obra para deixarmos nosso nome em uma placa, e nos pede sacrifícios em troca do reino de Deus, e abandonamos nosso anonimato pela grandeza de uma ação humana em nome da vontade de Deus, isso pode ser um atalho. Se nos oferecem milagres em troca de sacrifícios e mil orações, e nos isolam do mundo em ilhas de fé e salvação, isso pode ser um atalho. Se nossa paz interior nos é oferecida pelo esquecimento e abandono daqueles que são colocados em nosso caminho como nossa missão, sejam filhos, pais, doentes a quem visitar, mendigos a quem oferecer um alento de esperança, pessoas a quem levar uma palavra no dia a dia comum de nossas vidas, isso pode ser também um atalho.
Um dia eu caminhava pelo deserto de minha vida e me senti igual a todos os outros homens, com as mesmas necessidades e fraquezas, nesse dia encontrei Deus dentro de mim, e parei de seguir orientadores, guias espirituais, salvadores de almas. Nesse dia entendi que Cristo nos entende humanos, e humanos devemos nos entender também. E o reino dos céus será nosso por esforço e trabalho, mas a escolha e decisão são de Deus, não nossa. Aprendi que todo orientador é antes de tudo um manipulador, decidi então não cair na tentação de orientar nem na fraqueza de ser orientado. E eu vi então um mendigo caído na sarjeta e me vi naquele homem, e eu vi um rico e me vi naquele homem. Eu vi uma criança e vi um ancião, e em ambos eu me vi. E me vi em um homem sadio e em um moribundo. Eu vi um ateu, vi um homem de fé e vi um fanático, e me reconheci em todos e neles todos eu vi Deus.
Hoje me entendo fraco e às vezes forte, um homem de muita fé e outras vezes vacilante, bom e mal, certo e errado, pecador e arrependido. Sou hoje uma luta diária, porém calma e serena, o humano e o divino convivendo dentro de mim, sendo o que sou, me entendendo, curado por Deus, crendo em seu perdão e trocando o temor pelo amor Dele. Não posso mais renunciar a este mundo porque aprendi que Deus habita nele, pois habita em cada pessoa, em todas as formas de vida, e renunciar a esta vida, a este mundo, é na verdade renunciar a Deus.


Roberto C. G. Nascimento (Betão).
Jornalista Reg. Profissional
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